terça-feira, 20 de outubro de 2009

ANÁLISE DE EVOLUÇÃO E TIPIFICAÇÃO DE UM CLUSTER COMERCIAL

Armando Batista – Universidade Cidade de São Paulo

Marcelo Shimabukuro - Universidade Cidade de São Paulo

Resumo

Este artigo estuda a evolução de um sistema produtivo localizado. A pesquisa foi realizada em Guarulhos, São Paulo, em um cluster comercial de automóveis. Configura-se como uma pesquisa exploratória descritiva, sendo utilizado como instrumento de coleta de dados a entrevista estruturada e o questionário. O referencial de análise foi construído com base nas formulações teóricas, principalmente de Zaccarelli, que pesquisa a questão de entidades supra-empresariais como cluster e rede de negócios. A análise dos dados permitiu compreender o grau de evolução do cluster comercial como forma de possibilitar às empresas integrantes à obtenção de vantagens competitivas basicamente pela concentração geográfica e setorial dos produtores.

A importância do tema se dá pela contribuição que a pesquisa pode proporcionar no sentido de acrescentar um maior conhecimento sobre o assunto, visto que têm recebido diversas contribuições de vários autores.

Algumas lições foram aprendidas como sugere as conclusões deste artigo. O modelo de Zacarelli pode ser utilizado para mensurar o grau de evolução de um cluster de negócio, desde que se acrescente a ele as sugestões apresentadas pelos autores deste artigo.

Palavras-chave: Cluster, Evolução, Aglomerados.Competitividade, Estratégias.


1. Introdução

Estudos realizados nas últimas décadas confirmam da importância dos aspectos locais para o desenvolvimento econômico e competitividade das empresas (UNCTAD: 1998, MYTELKA & FARINELLI: 2000)[1]. A aglomeração setorial de determinadas empresas que produzem ou comercializam produtos em uma área delimitada, criam vantagens substanciais para as firmas localizadas neste agrupamento e mostram a relevância do tema e sua importância para a economia local e regional. Segundo a UNCTAD (1998) a razão principal para isso, é que nos países em desenvolvimento as pequenas e médias empresas (PMEs) constituem os atores econômicos numericamente dominantes e contribui de um terço até a metade para o produto interno nacional total.

As vantagens desses agrupamentos de produtores foram apontadas primeiramente por Marshall (1996), a partir da experiência dos distritos industriais da Inglaterra no século XIX. Marshall apontou que as firmas aglomeradas são capazes de se apropriar de economias externas geradas pela aglomeração dos produtores, a partir da utilização do conceito de retornos crescentes de escala. Depois dele, outros autores procuraram determinar os principais elementos que justificam as vantagens competitivas das estruturas geográfica e setorialmente concentradas.

Guarulhos localiza-se a nordeste da Região Metropolitana de São Paulo, sendo um dos 39 municípios que a integra, encontrando-se posicionado estrategicamente no principal eixo de desenvolvimento do País, São Paulo / Rio de Janeiro, apenas a 17 Km da capital. O município de Guarulhos conta com uma população estimada em 2004 de 1.218.864 habitantes nos seus 318 km² de área. Conta em seu comércio com 14.519 empresas divididas em: reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos, outros serviços coletivos, sociais e pessoais. (www.ibge.gov.br/cidades - 05.02.2005).

No centro do município, na Avenida Timóteo Penteado e algumas ruas transversais, coexistem agrupadas diversas empresas que fazem parte do cluster comercial de automóveis. Assim sendo, os consumidores potenciais têm a possibilidade de escolher, em função de suas necessidades e condições financeiras, entre as muitas opções existentes no local de produtos e serviços, e formar sua decisão de compra.

Este trabalho concentra-se justamente em estudar este agrupamento pelas condições encontradas para a aplicação do modelo teórico de Zaccarelli, que mostra os fundamentos necessários para caracterizar o estágio de um cluster de negócios, considerando-o como uma entidade supra-empresarial. O estudo e a identificação dos fatores responsáveis pela evolução de determinado cluster é importante para entender os aspectos relevantes de sua evolução, tendo em vista que muitos destes agrupamentos não estão completamente analisados, formalizados ou plenamente institucionalizados. No entanto, a presente pesquisa leva também em consideração as contribuições dadas por outros autores sobre o tema.

2. Conceitos e Importância de Cluster

A definição da palavra cluster no dicionário britânico é “um número de coisas crescendo ou reunidas juntas” (Michaelis, Chamber Complete English Dictionary, 1996). No mundo econômico, foi Porter quem primeiro definiu cluster. Ele o usou em 1990 em seu livro “A vantagem competitiva das nações”. Clusters são concentrações geográficas de empresas de determinado setor de atividade e companhias correlatas. Estas podem ser por exemplo, fornecedores de insumos especiais, componentes, máquinas, serviços, ou provedores de infra-estrutura especializada.

Em seu livro de 1999, “Competição” ele retoma o assunto dos aglomerados o definindo de forma mais abrangente como concentração geográfica de empresas, inter-relacionadas e instituições correlatas numa determinada área vinculadas por elementos comuns e complementares, cujo valor como um todo é maior do que a soma das partes. Para ele, os aglomerados são um aspecto importante do cenário político, econômico e social em todas as economias avançadas, oferecendo um novo modo de pensar sobre a economia e sobre o desenvolvimento regional; apontam novos papéis das empresas, dos governos e das instituições que se esforçam para aumentar a competitividade; sugere que boa parte da vantagem competitiva se situa fora das empresas residindo na localidade; cria interesse das empresas no ambiente de negócios; e que o estado do aglomerado é importante para a saúde da empresa.

A UNCTAD (1998) refere-se a cluster como um conceito espacial. As empresas são localizadas próximas umas às outras, não implicando que haja colaboração entre elas automaticamente.

Para Zaccarelli (2004), o cluster de negócios é um sistema supra-empresarial, evolutivo, em que as principais partes componentes são empresas com negócios relacionados a um tipo de produto e ou serviço, em um ambiente em que as empresas estão agrupadas geograficamente, de forma a conseguir vantagens competitivas sobre empresas localizadas fora de qualquer agrupamento ou de outro cluster de negócio menos evoluído.

Existem muitos conceitos atualmente para definir o que seja cluster. No entanto, sem se ater aos detalhes específicos da teoria, todos os pesquisadores concordam que o aspecto mais marcante na definição de um cluster é a aglomeração geográfica.

Ainda segundo Zaccarelli (2000) por se tratar de uma entidade supra-empresarial não formalizada, as empresas não se inscrevem no cluster como se fosse um clube ou uma associação. Ele existe naturalmente mesmo sem a consciência das empresas que dele fazem parte, e as empresas agem como fazendo parte do todo sem o planejamento formal dos empresários.

Porter (1998) argumenta que as aglomerações podem surgir em função de acidentes históricos, pequenos eventos, como descobertas, em função da ação de instituições e associações, contextos sociais e culturais e derivadas de políticas públicas.

Ainda segundo Porter (1999), os aglomerados ocorrem em muitos tipos de setores, em campos maiores ou menores e mesmo em alguns negócios locais, como restaurantes, revendedores de carros e antiquários. Na cidade de São Paulo, por exemplo, existem diversos clusters em diversos tipos de setores, como carros, peças, artigos para festas, vestidos de noivas, etc...

O surgimento de um cluster decorre da existência de fatores que operando em conjunto ou separadamente levam à atração da demanda para um mesmo local. A presença de organizações próximas umas das outras gera uma intensa competição entre elas, propiciando uma melhora em termos de produtividade, inovação, custos baixos e oferta variada de produtos e serviços correlatos e, consequentemente mais atratividade.

A solução do paradoxo da localização geográfica em uma economia globalizada revela como o agrupamento de empresas cria continuamente vantagem competitiva. O que acontece nas empresas é importante, mas os clusters mostram que o efeito do agrupamento em volta delas, muitas vezes acaba sendo mais relevante que as próprias estratégias individuais utilizadas por elas.

Tipos de Clusters

De acordo com a UNCTAD (1998) existem muitos tipos de clusters. Cada destes tipos tem uma trajetória de desenvolvimento distinta, princípios de organização e problemas específicos. Três critérios amplos permitem fazer as distinções principais no cluster:

1. Nível geral de tecnologia das empresas;

2. As transformações ou mudanças ocorridas com o passar do tempo; e

3. O grau de coordenação e cooperação entre empresas.

Com esses critérios os clusters foram classificados em cinco tipos: informal, organizado, inovador, tecnológico/incubador e zonas de exportação (EPZs)[2].

Ainda segundo a UNCTAD (1998), podemos avaliar um cluster e classificá-lo segundo as seguintes características do quadro 1:

Quadro 1 – Tipos de clusters, suas características e performance.

Tipos

Características

Clusters

Informais

Clusters Organizados

Clusters Inovativos

Exemplos

Suame Magazine (Kumasi, Ghana)

Sialkot (Punjab, Paquistão)

Bangalore (Índia)

Nível Tecnológico

Baixo

Médio

Alto

Habilidades (Skills)

Baixo

Médio

Alto

Inovação

Pouco

Algum

Alto

Confiança (Trust)

Pequena

Alto

Alto

Cooperação

Pequena

Alto

Alto

Competição

Alta

Alta

Alta

Tamanho das empresas

Micro e pequenas

Pequenas, médias e grandes

Pequenas, médias e grandes

Exportação

Pouca ou nenhuma

Alguma para muitas

Alta

Aprendizado (Learning)

Pequeno

Média para alta

Alta (continuada)

Fonte: Tradução livre da (UNCTAD:1998, P.7).

Benefícios

Schimitz apud Machado (2003) afirma que o agrupamento de empresas abre oportunidades para o ganhos de eficiência que os produtores individuais raramente podem obter. O autor defende a diferenciação entre os ganhos planejados, aqueles que são buscados intencionalmente pelas empresas (economias internas) e os não planejados, ou incidentais (economias externas)[3]. A soma desses ganhos ele define como eficiência coletiva. A simples concentração geográfica e setorial das empresas não é garantia de eficiência coletiva, mas é condição necessária para os desenvolvimentos posteriores, que podem ou não ocorrer, como:

a) Divisão do trabalho e da especialização entre produtores;

b) Fornecimento de produtos especializados com rapidez;

c) Surgimento de fornecedores de matérias-primas, componentes e máquinas;

d) Surgimento de agentes que vendam para mercados distantes;

e) Surgimento de empresas especializadas em serviços tecnológicos, financeiros e contábeis;

f) Surgimento de uma classe de trabalhadores assalariados com qualificações e habilidades específicas; e

g) Formação de consórcios e associações para ações específicas.

Cooperação

A cooperação entre empresas é uma das características que identifica um cluster como completo. (ZACCARELLI 2000). No caso de uma aglomeração comercial existe também como ressalta Zacarrelli (2004) o interesse de todo o cluster, o espírito de corpo passa a ser levado, mesmo que inconscientemente em conta nos negócios da empresa. Esse relacionamento de parceria se estabelece como parte da própria sobrevivência individual.

Para Orssatto (2002) os relacionamentos de parceria, ou cooperação, visam melhorar a capacidade da empresa nas suas relações de interdependência na tentativa de melhorar a eficácia. Isso por si só faz da formação de redes relacionais uma alternativa frente aos desafios impostos pelo mercado. Para ele os novos modelos organizacionais baseados na formação de alianças e parcerias são alternativas viáveis para superar a maior parte dos problemas gerenciais enfrentados pelos empresários. Atuando de forma articulada e em parceria as pequenas empresas poderão obter as devidas condições de sobrevivência, crescimento e competitividade, podendo concorrer com grandes empresas e ampliar sua participação nos mercados, sejam eles nacionais ou internacionais.

Para Motta (2001) apud Wittmann (2003) as novas formas de colaboração entre empresas representa um paradigma de vinculação flexível, onde as vantagens, decorrentes da aglomeração, ocorrem devido à existência de densa sobreposição de aglomerados de empresas trabalhando de forma interdependente, providas de mão-de-obra e infra-estrutura institucional.

Competição

Com relação a competição, Porter (1999) argumenta que os aglomerados afetam a capacidade de competição de três maneiras amplas:

1. Aumento da produtividade das empresas ou setores componentes;

2. Fortalecimento da capacidade de inovação; e

3. Estímulo à formação de novas empresas, que reforçam a inovação e ampliam o aglomerado.

Além de melhorar a produtividade, os clusters desempenham um papel importante na capacidade de inovação permanente das empresas. O relacionamento permanente com outras entidades do cluster contribui para que as empresas saibam com antecedência como a tecnologia está evoluindo, qual a disponibilidade de componentes e máquinas, quais os novos conceitos de serviço e marketing, e assim por diante. A obtenção dessas informações é facilitada pela proximidade das empresas e pelo contato freqüente.

O estimulo a formação de empresas no cluster é facilitada pela percepção da falta de produtos ou serviços necessários e que não estão disponíveis no local. As barreiras à entrada no mercado são menores do que em outras regiões, enquanto os ativos necessários - capacidades, insumos e mão-de-obra - geralmente estão à disposição na região do cluster.

Vantagens competitivas

Porter (1999) enumera as vantagens competitivas de um cluster como sendo:

1. Acesso a insumos especializados de melhor qualidade e a um custo mais baixo tanto interno (no aglomerado) com custos de transação mais baixo, como externo em função de possíveis alianças;

2. Acesso à pessoal especializado a um menor custo em função de um pool de pessoas componentes do próprio aglomerado;

3. Acesso à informação técnica;

4. Complementaridades de produtos entre participantes;

5. Acesso a instituições e a bens públicos;

6. Incentivo e mensuração do desempenho;

7. Percepção das novas necessidades dos compradores;

8. Percepção de novas possibilidades tecnológicas, operacionais e de distribuição;

9. Realizar experiências com novos produtos a custos mais reduzidos;

10. Comparação constante entre os pares do aglomerado.

11. Vantagens na formação de novas empresas pela facilidade de acesso a insumos.

Para Porter (1999) a intensa rivalidade entre as empresas de uma comunidade assegura pressão continuada para melhorar as tecnologias de processo, minimizando custos e inovando os produtos. A localização afeta a vantagem competitiva por meio da influência sobre a produtividade, especialmente o crescimento da produtividade. A competição entre empresas localizadas na mesma região geográfica incentiva a mensuração do desempenho pela facilidade de comparação e pela tentativa de superação do concorrente local.

Percebe-se pelo estudo do referencial teórico, as variáveis necessárias que devem estar presentes para que se possa classificar o tipo de cluster pesquisado e dessa forma chegar ao seu estágio de desenvolvimento.

3. Método de Pesquisa

Pode-se definir pesquisa como o procedimento racional e sistemático que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos. (GIL, 1991).

Para fins deste artigo, optou-se para uma pesquisa de enfoque qualitativo, visto que a observação e compreensão do ponto de vista das empresas pesquisadas, reveste-se de importância para a obtenção de dados confiáveis. Na concepção de Godoy (1995), os estudos denominados qualitativos apresentam características peculiares. Sob este ponto de vista, um fenômeno pode ser melhor compreendido e analisado numa perspectiva integrada, no contexto em que ocorre e do qual é parte. Dessa forma, é necessário, num trabalho de campo, que se coletem vários tipos de dados e analisá-los, com o objetivo de entender a dinâmica do fenômeno.

Essa pesquisa foi conduzida em duas etapas: uma exploratória e uma descritiva. Na primeira etapa, exploratória foi realizadas entrevistas com empresas de diferentes ramos de atuação ligadas ao negócio automóvel, sendo sete revendas de automóveis, uma oficina mecânica, duas de serviços automotivos. As entrevistas proporcionaram a validação de conteúdo dos fundamentos identificados por Zaccarelli (2000) onde ele lista os fundamentos de auto-evolução de um cluster[4]. Para ele, estes atributos têm a propriedade de mostrar se o aglomerado em questão se constitui em cluster ou não e em que grau evolutivo se encontra. Com essa verificação, foi procedida a estruturação do instrumento de coleta. O critério utilizado para a escolha das empresas para a pesquisa é de que elas fossem sediadas no inicio, meio e fim da referida avenida e ruas transversais. A amostragem é não-probabilística e intencional por julgamento. Em cada uma das empresas selecionadas foi realizada uma entrevista de cerca de uma hora com o responsável.

Na segunda etapa, descritiva, foi distribuído questionário para quarenta outras empresas, de forma a colher informações complementares que pudessem confirmar os depoimentos colhidos e ampliar a base de entendimento do cluster, com quarenta e cinco por cento de retorno.

A presente pesquisa identificou no aglomerado 168 empresas como mostra o quadro 3.

Quadro 3 – Lista de empresas identificadas no cluster.

Tipo de Empresa

Quantidade

Locadora de automóveis

1

oficinas mecânicas

24

serviços automotivos

23

auto-peças

4

despachantes

4

comercializando motocicletas

12

auto-escolas

4

revendas de tintas automotivas

2

postos de gasolina

8

comercializando automóveis

86

4. Apresentação, análise e discussão dos resultados

O cluster comercial da Avenida Timóteo Penteado tem cerca de 30 anos de existência. Passando de uma avenida acanhada, para um importante centro comercial de automóveis no município de Guarulhos, ao longo do tempo. Pelos depoimentos colhidos o surgimento deste cluster deu-se pela facilidade na compra dos terrenos. A instalação de algumas empresas de revenda de automóveis, incentivou a outras a vir para o local. Isto foi gerando gradativamente uma forte atração para os consumidores locais que passaram a encontrar em um único local, automóveis de vários modelos e ano de fabricação de diversos preços, possibilitando padrões de comparações entre elas, o que configura as vantagens competitivas enumeradas por Zaccarelli (2000) que são: disponibilidade de ampla linha de produtos e preços confiáveis. Por sua vez, a concentração de revendedoras de automóveis atraiu para o local, empresas que prestam serviços ligados a automóveis, como por exemplo, as oficinas mecânicas, os despachantes e as empresas de serviços automotivos (pneus, troca de óleo, acessórios, etc) entre outras. Trouxe também para o local, empresas que comercializam motocicletas mostrando um inicio de transformação do cluster de automóveis para meio de transporte como negócio.

Após a análise qualitativa, realizou-se a totalização das respostas às perguntas abertas, segundo a opinião dos respondentes, que está apresentado a seguir.

· O total de empresas identificados, na Avenida Timóteo Penteado, com o negócio de automóveis foi de cerca de 140 empresas, estando incluídas as empresas de negócios correlatos[5].

· No local não existe uma associação que congregue os interesses dos comerciantes.

· Empresas semelhantes às que existem do cluster estão a cerca de cinco quilômetros do local.

· Foram identificados, segundo a opinião dos respondentes os tipos de empresas que fazem falta ao cluster: autopeças especializadas, restaurantes de qualidade, sites de divulgação e material de escritório.

· Para 65% dos entrevistados, a sobrevivência fora do cluster, seria mais difícil, enquanto 25% dos entrevistados dizem que poderiam sobreviver sem problemas, 5% não souberam responder e 5% não responderam.,

· Todas as empresas pesquisadas dizem que mantém algum tipo de relacionamento comercial com outra localizada dentro do aglomerado.

· 87% dos empresários entrevistados e que responderam ao questionário dizem ter conhecimento de empresas que querem se instalar no cluster.

· 62% dos entrevistados apontaram empresas que para eles, são as que dão significância e faz com que o cluster seja um pólo de atração.

· 87% dos entrevistados que responderam ao questionário dizem que indicam uma empresa do cluster, caso a sua não tenha o produto desejado pelo cliente. No entanto, nas entrevistas 100% declararam que em vez de indicar uma empresa do cluster, elas mesmas intermedeiam a compra do produto pelo cliente.

· 87% das empresas apontaram a concentração de lojas congêneres à razão delas se instalarem no local.

· Todas as empresas entrevistadas terceirizam tarefas que não fazem parte de seu negócio principal.

· 50% das empresas disseram que usam métodos diferentes dos utilizados pelos seus concorrentes para comercializar automóveis e os outros 50% que utilizam os mesmos métodos de comercialização.

Após a totalização das respostas às perguntas abertas, foi feita uma totalização dos fatores facilitadores que contribuem para a existência do cluster de acordo com Porter (1999), Zaccarelli (2000) e UNCTAD (1998), obtendo-se o resultado mostrado no quadro 4, para o qual foi considerado o percentual de respostas para cada fator. A escala de valores é: (1) Existe minimamente o fator, (2) Existe de forma precária, (3) Existe de forma regular (mais ou menos), (4) Existe razoavelmente bem o fator e (5) Existe plenamente o fator.

Quadro 4 – Distribuição percentual das respostas em relação a cada fator facilitador.

Fatores facilitadores

1

2

3

4

5

Mão-de-obra especializada

38%

25%

37%

Infra-estrutura física da empresa

12%

38%

50%

Infra-estrutura pública (transporte, órgãos do governo, facilidade de acesso)

12%

25%

25%

38%

Competição

12%

13%

25%

50%

Comparação entre a empresa pesquisada e a empresa considerada modelo do cluster

13%

37%

50%

Apoio do governo ao cluster

67%

25%

12%

Instituições de apoio relacionados ao produto do cluster

100%

Análise do cluster conforme modelo conceitual

Extraiu-se dos conceitos anteriormente apresentados os elementos para desenvolver a análise sobre os fatores do modelo conceitual. Os resultados apurados dizem respeito às entrevistas e questionários respondidos pelas empresas.

Concentração geográfica: Para Porter (1999) e Zaccarelli (2000) este é o fator que mais identifica a existência de um cluster. Para Zaccarelli (2000) a concentração ideal é a maior possível. “Nesse aspecto, encontramos no local 168 empresas que tratam do negócio automóvel” em uma área de aproximadamente 8 Km². Percebe-se, todavia, que existe espaço para crescimento, pelo número de lojas disponíveis no local e que atualmente encontram-se fechadas.

Variedade de empresas: Existe no local uma variedade de empresas, como mostra o quadro 3, desta forma configurando o aglomerado como cluster, de acordo com a definição de cluster dada por Porter (1999) e Zaccarelli (2000).

Alta especialização[6]: Para Zaccarelli (2000) em um cluster competitivo devem existir muitas empresas realizando, cada uma, poucas operações especializadas. Neste aglomerado encontrou-se conforme demonstrado no item anterior, empresas realizando operações específicas, cada qual conforme sua especialização.

Muitas empresas de cada tipo: Pela pesquisa realizada e observações efetuadas, os empresários do local, não sabem com exatidão quantas empresas existem de cada tipo e quais empresas concorrem com a sua, no segmento em que atuam. A maioria dos empresários diz não conhecer quais estratégias são utilizadas pelas outras empresas existentes no local. Supõem, no entanto, que seja igual às próprias estratégias que utiliza.

Aproveitamento de subprodutos e reciclagem: Não foi identificado nas visitas ao local, empresas de desmanches de automóveis, o que configuraria a reciclagem.

Cooperação entre empresas e instituições: Zaccarelli (2000) diz que a raramente a cooperação é deliberada pelos executivos, mas que acaba surgindo naturalmente. Não foi o que a pesquisa constatou neste caso específico. Pelo levantamento efetuado foi constatado que a cooperação entre as empresas é praticamente inexistente. Quando um cliente necessita de um carro que o lojista não têm, ele providencia a compra do outro lojista e o revende. Com relação às instituições oficiais, ou seja, a prefeitura, não existe qualquer tipo de cooperação ou infra-estrutura colocada à disposição do cluster. Também não foi observado qualquer tipo de instituições de apoio[7].

Intensa disputa: A pesquisa demonstra que os respondentes não acompanham o desenvolvimento e ou definhamento do aglomerado de forma deliberada. Na pergunta relativa a este item foi verificado que, os respondentes simplesmente “chutam” o número de empresas que fecharam, abriram ou trocaram de dono. No entanto, andando na região percebe-se que a substituição seletiva é permanente, pelo número de locais fechados ou que estão abrindo, havendo, portanto, uma intensa disputa entre elas.

Uniformidade tecnológica: A pesquisa demonstra que a forma de comercialização é semelhante entre as empresas, confirmando que existe uniformidade quanto a técnicas de negociação, treinamento do pessoal e aspecto visual das lojas. No entanto, verificou-se que existem algumas empresas no local que estão mais evoluídas tecnologicamente neste aspecto do que outras.

Cultura adaptada às atividades: Não foi percebido na pesquisa se a cultura desta parte do município está adaptado ao aglomerado.

Atuação do setor público: Segundo os respondentes, a prefeitura não patrocina qualquer evento e não desenvolve políticas no sentido de tornar o cluster mais competitivo.

O quadro 5 mostra o resumo da situação atual do cluster da Timóteo Penteado, em conformidade com o referencial teórico.

1

2

3

4

5

NI

Existe minimamente o fator

Existe de forma precária

Existe de forma regular (mais ou menos)

Existe razoavelmente bem o fator

Existe plenamente o fator

Não identificado

Quadro 5 – Diagnóstico do cluster da Timóteo Penteado

Fundamentos/Características

Situação atual

1. Alta concentração geográfica

4

2. Variedade de empresas

3

3. Existência de instituições de apoio

NI

4. Alta especialização

4

5. Muitas empresas de cada tipo

3

6. Aproveitamento de subprodutos e reciclagens

NI

7. Cooperação entre empresas

1

8. Intensa disputa

5

9. Defasagem tecnológica uniforme

4

10. Cultura adaptada

NI

11. Assegurar tecnologia moderna

NI

12. Estratégia para deixar o cluster rico

NI

13. Atuação do setor público

1

Fonte: Adaptado de ZACCARELLI, Sérgio B. Estratégia e Sucesso nas Empresas. São Paulo: Saraiva, 2000, e notas de aula.

Conforme afirma Zaccarelli (2000), a análise de como se encontra o cluster em relação aos fatores pode proporcionar às empresas que perceberem as brechas existentes, condições de se beneficiarem delas. A pesquisa não detectou, no entanto, se os empresários têm consciência desses fatores.

5. Conclusões

Clusters existem de muitas formas, cada qual com sua trajetória de desenvolvimento, princípios de organização e problemas específicos (MYTELKA & FARINELLI: 2000), e estudar os fundamentos que se combinaram em cada um deles de forma a mostrar seu estágio de evolução e situação competitiva pode se constituir uma forma importante de entender as variáveis econômicas envolvidas em determinada região.

Os fundamentos levantados no cluster da Timóteo Penteado pelo estudo em questão permitem-se que se cheque as seguintes conclusões:

1. Os fundamentos pesquisados apontam para um quadro de estagnação do cluster e a evolução de sua trajetória depende de ações a serem desenvolvidas pelos atores do aglomerado.

2. A pesquisa demonstrou que a simples concentração geográfica e setorial das empresas não é garantia de eficiência coletiva. Foi verificada no local, a existência da substituição seletiva de empresas, pelos estabelecimentos fechados e vazios que ostentam ainda placas, pelas lojas que se encontram atualmente em reformas e por novos empresários que recentemente se instalaram no local, confirmando que a concentração de empresas, comercializando um mesmo produto cria um pólo de atração para outras que querem desfrutar das vantagens oriundas desse poder de atração que o cluster possui sobre os clientes. Isto vem de encontro ao que afirmara Porter (1999) que o valor do todo é maior que a soma das partes.

3. A pesquisa demonstrou que as estratégias desenvolvidas pelas empresas estão relacionadas ao ambiente do cluster. Por exemplo: a reforma de loja no intuito de torná-la mais atrativa aos possíveis clientes em função das mudanças percebidas em outras lojas, corroborando ao que afirmara Porter (1999) sobre o fortalecimento da capacidade de inovação e também Zaccarelli (2000) que a capacidade de inovação têm a ver com o interesse de todo o cluster.

4. A especialização[8] das empresas também ficou registrada na pesquisa, bem como a intensa disputa entre elas. Também a defasagem tecnológica entre elas ficou evidenciada pelas diferenças encontradas nos estilos de negociação, abordagem, uniformidade de vestimenta, cuidado na aparência e conhecimento dos produtos oferecidos. O cluster como um todo apresenta um baixo nível tecnológico no aspecto de comercialização, não diferindo muito das lojas que se encontram fora dele.

5. Percebeu-se que o ajuste das pequenas empresas localizadas no local, para atuar e sobreviver de forma a poder competir, requer o apoio de instituições de apoio para o desenvolvimento de capacitação técnica.

6. A mão-de-obra encontrada no cluster possui pouca habilidade e treinamento.

7. No que se refere à atuação do setor público sobre o aglomerado, a pesquisa revelou que os empresários não possuem expectativas positivas em relação ao apoio do governo municipal no sentido de ações para o desenvolvimento do cluster.

8. Percebeu-se a necessidade de uma associação para articulação entre os empresários, na medida que se identificou parte dos problemas que afligem o cluster (falta de colaboração entre os eles; distanciamento do poder executivo; falta de instituições de apoio; deficiência na formação da mão-de-obra; entre outros).

O quadro 6 seguir demonstra o estágio atual do cluster, de acordo com os fatores encontrados na pesquisa e enquadramento no modelo teórico.

Quadro 6 – Estágio do Cluster da Timóteo Penteado

Características/Fatores

Cluster Timóteo Penteado

Existência de Liderança

Pouca ou nenhuma

Tamanho das Firmas

Micros e Pequenas

Inovação

Pequena

Confiança Interna

Pequena

Nível Tecnológico

baixo

Cooperação

Pequena

Competição

Alta

Novos Produtos

Nenhum

Exportação

Pouco ou nenhum

Atuação do Setor Público

Pouca

Capacidade de Aprendizado

Pequena

Confiança

Pequena

Barreiras à entrada de concorrentes

Baixa

Qualidade dos fatores[9]

Baixa

Fonte: Os autores, adaptado de (UNCTAD:1998, p.7 e Zaccarelli:2000, p. 210).

Clusters informais geralmente contêm micro e pequenas empresas com nível tecnológico baixo, baixa capacidade de gestão dos empresários, com sua mão-de-obra pouco qualificada e nenhuma aprendizagem contínua. Pequenas barreiras de entrada podem conduzir ao crescimento no número de empresas, mas isso não necessariamente reflete uma dinâmica positiva para uma melhoria das habilidades de administração, investimento em novos processos tecnológicos, maquinaria e equipamento, melhoria em qualidade de produto, diversificação de produto ou o desenvolvimento de exportações para o cluster[10].

Pode-se concluir que à luz dos fundamentos teóricos, a pesquisa revelou um cluster de característica informal, com seus problemas específicos como mostrado na análise e estagnado em sua evolução.

Espera-se que este trabalho tenha dado sua contribuição para a análise e compreensão dos fenômenos dos agrupamentos locais – Clusters - pela aplicação dos fundamentos pesquisados por Porter, UNCATD e Zaccarelli.


6. Referências Bibliográficas

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 1991.

GODOY, A. S. Pesquisa Qualitativa: tipos fundamentais In: Revista de Administração de empresas. São Paulo: FGV, v.35 n.3 p.20-29, mai./jun. 1995.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Apresenta resultados de pesquisas e arquivos para download e banco de dados sobre a conjuntura econômica brasileira. Disponível em < http://www.ibge.gov.br> 2005.

MARSHALL, Alfred. Princípios de Economia. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

MACHADO, S. A. Dinâmica dos Arranjos produtivos Locais: um estudo de caso em Santa Gertrudes, a nova capital da cerâmica brasileira. 2003 162 f. Tese (doutorado em Engenharia de Produção) – USP. São Paulo. 2003.

Michaelis, Chamber Complete English Dictionary.São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1996.

MYTELKA, Lynn e FARINELLI, Fulvia. Local clusters, innovation and susteined competitiveness

ORSSATO, C.H. A. Formulação das Estratégias da Empresa em um Ambiente de Aglomeração Industrial, 2002. 253f. Tese (doutorado em Engenharia de Produção) Santa Catarina: UFSC, 2002.

PORTER, M. E. Vantagem Competitiva das Nações. Rio de Janeiro: Campus, 1990.

PORTER, M. E. Clusters and the new economics of competition. Harvard Business Review, nov./dez.1998.

PORTER, M. E. Competição - On Competition: Estratégias Competitivas Essenciais. Rio de Janeiro : Campus, 1999. 515p.

ZACCARELLI, Sérgio B. Estratégia e Sucesso nas Empresas. São Paulo: Saraiva, 2003.

______ - notas de aula Mestrado em Administração, São Paulo: 2004.

UNCTAD, Promoting and Sustaining SMEs Clusters and Networks for Development. Issued Paper by the UNCTAD Secretariat. 1998.



[1] Para conhecer os autores e estudos consultar UNU/INTECH Discussion Papers ISSN 1564-8370 by Mytelka e Farinelli, The United Nations University, The Netherlands:2000, p.7.

[2] Para maiores informações sobre as características de cada um dos cinco tipos de cluster consultar a Issues paper by the UNCTAD secretariat, 1998, 99. 4-8.

[3] Maior detalhe sobre as economias externas pode ser obtido em Machado, 2003, p.11 em diante.

[4] Conforme quadro 2.

[5] Não estão incluídas as empresas que comercializam motocicletas.

[6] Entendido aqui como empresas realizando cada qual um tipo de prestação de serviço ou comercialização de um tipo de produto. (conserto de carro, venda de automóveis, venda de serviços de despachos, etc...).

[7] Instituições de apoio, conforme citado por Zaccarelli (2000, p. 203).

[8] Empresas atuando de forma específica, como, por exemplo, empresa comercializando determinados carros, outras prestando determinados serviços, etc.

[9] Conforme Figura 1 do modelo diamante de Porter:1999.

[10] resumo em tradução livre de UNCTAD:1998, pp. 4-8.